Mistura de 10% de biodiesel não compromete abastecimento de soja

Seminário da APROBIO debateu benefícios e perspectivas do biocombustível



A produção brasileira de biodiesel tem plenas condições de atender uma mistura superior aos 10% por litro de diesel fóssil em 2020, para quando o governo federal tem dado sinais de autorizar este percentual.
A afirmação é do chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroenergia, José Manuel Cabral de Sousa Dias, feita na última quarta-feira (29/8) no seminário "O Biodiesel na Agroenergia", promovido pela Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (APROBIO), na 35ª Expointer, uma das maiores exposições internacionais de agropecuária do mundo, em Esteio (RS).
Segundo José Cabral, com a mesma área plantada de soja (30 milhões de hectares, pelas previsões do Ministério da Agricultura), em 2020, a produção de biodiesel para 10% de mistura consumirá 35,4% da produção projetada do grão para aquele ano (86,5 milhões de toneladas). "Isso não comprometerá nem o abastecimento interno, nem as exportações", disse ele. Hoje, 14% da soja brasileira vira óleo para a produção de biodiesel.
O seminário na Expointer não se limitou à produção de biodiesel a partir de soja. O próprio chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa falou sobre as pesquisas com o pinhão manso e com crambe, oleaginosa não alimentar, com semente que concentra de 35% a 60% de óleo.
O conselheiro da APROBIO, Alexandre Pereira, falou sobre a produção do biocombustível a partir de sebo bovino. Ele explicou os investimentos em georeferenciamento da localização dos rebanhos na Amazônia legal para evitar o abate de animais criados em reservas ecológicas.
O sebo bovino, antes refugo da indústria bovina, hoje responde por 15% da matéria prima do biodiesel. Segundo Alexandre, cada animal vivo consome até 8 litros de diesel em sua criação, até o abate. Depois de industrializado, o sebo do mesmo animal gera 20 litros de biodiesel.


Balança comercial
Em sua palestra no evento, o diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), Rafael Schechtman lembrou o impacto positivo do biodiesel na balança de pagamentos do comércio exterior brasileiro. Ele citou dados da balança no ano passado, quando o país desembolsou US$ 7,4 bilhões com a importação de biodiesel.
Para Rafael, com 10% de mistura do biodiesel no diesel o alívio nos pagamentos seria muito maior, com impactos positivos também na logística de importação de diesel, enquanto as refinarias de diesel da Petrobras não ficam prontas. Dados da Fundação Getúlio Vargas, não mencionados pelo diretor do CBIE no seminário, apontam uma economia de US$ 2,84 bilhões, de 2005, quando foi criado o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), a 2010 nas compras externas de diesel devido à produção de biodiesel.
O mesmo estudo da FGV calculou que, num cenário de B10 esta economia seria de US$ 1,67 bilhão em 2010, com base no preço FOB (no porto de embarque do país vendedor) do ano anterior. No mesmo dia do seminário da APROBIO, realizado em parceria com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, a Petrobras anunciou que dobrará as importações de diesel até 2014.
Além de autoridades estaduais e de lideranças do agronegócio no RS, a iniciativa contou com as participações do representante do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, Marco Antonio Viana Leite; e do ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, João Abreu.
Participaram, ainda, o deputado federal Jerônimo Goergen, presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel no Congresso Nacional, e o coordenador de Política Agrícola da Secretaria de Agricultura do Estado, professor Dilson Bisognin.